sexta-feira, 22 de outubro de 2010

[OPINIÃO] O princípio do fim?

Aqui há algum tempo atrás, alguns amigos disseram-me que a Cold Meat Industry - uma das mais importantes editoras Europeias - estava a passar por dificuldades, o que foi confirmado depois por algumas das bandas (ainda) ligadas à editora Sueca. Não é grande novidade que a indústria discográfica atravessa dificuldades, pelo menos no modelo clássico, mas confesso que sempre pensei que havia instituições mais imunes à tão propalada crise.

Aparentemente não é o caso - a Tesco Germany anunciou que irá assumir o catálogo da CMI, tornando-se a sua representante em termos de produção, distribuição e coordenação geral. Claro que o selo CMI irá manter-se, assim como o envolvimento de Roger Karmanik no critério editorial, mas acredito que será apenas uma questão de tempo até assistirmos ao fim de um ícone para todos os amantes da música que por aqui falamos.

Lembro-me de tantos bons discos que a CMI editou. Lembro-me de grandes descobertas que fiz com o patrocínio da editora Sueca. Lembro-me de ter adquirido a primeira edição de sempre da editora para ficar com esse marco histórico na minha discoteca. E provavelmente lembrar-me-ei deste dia também nos anos vindouros como - provavelmente - o princípio do fim.

E não será porventura a única. Têm-me falado também de outras editoras importantes em crise, e um pouco por todo o lado. Serve esta notícia como propósito para uma discussão - o que vos parece que vai acontecer às grandes editoras Europeias no nosso espectro de música preferido? Manter-se-ão, darão lugar a outras, apenas deixarão de existir? Será a fusão uma solução, como aparenta ser o caso entre a Tesco e a CMI? Como será o panorama editorial - e o musical, já agora - daqui a 5 ou 10 anos?

Deixem as vossas opiniões no sítio do costume. Entretanto, eu vou ali colocar algum disco da CMI a rodar - pelo menos esses bocados de história permanecem.

6 comentários:

Odal disse...

Infelizmente, o mundo actualmente está assim. Ninguém compra cd, cassete ou vinil. E não entendo porquê. Haverá algo que dê mais gosto do que receber um pacote à porta de casa, vindo lá de fora, e abrir e admirar a magia que vem lá dentro? Haverá algo melhor do que comprar um cd na fnac, carbono ou afins, e chegar a casa e pô-lo a tocar, e enquanto se ouve folheia-se o livrinho, absorvendo a emoção, o conhecimento do(s) artista(s). Daqui a dez anos, não existirão editoras maiores. Ficarão apenas uma mão cheia de editoras menores que ainda resistem a esta onda e sempre lançarão coisas que vale a pena ter. E nisso tudo, estarei cá eu, estarás cá tu Lurker, e tantos outros resistentes que ainda possuem o verdadeiro amor à arte, à música! Porque quem ama verdadeiramente, compreende.

Lurker disse...

Pois, claro que percebo perfeitamente o sentimento - o mercado de massas para o formato físico parece de facto condenado, apesar de alguns (como nós) continuarem fascinados pelo manuseamento da obra completa - que inclui mais do que apenas a música.

Acho que uma possível solução será a aposta em formatos mais nobres, como as edições especiais e limitadas. Tenho algumas que são autênticas obras de arte, que me deliciam repetidamente. Talvez edições mais exclusivas (não necessariamente mais caras) possam continuar a cativar os melómanos que não dispensam uma boa discoteca em casa.

E, claro, há que contar com a adaptação a novas realidades - o formato digital está aí para ficar, e nada como o rentabilizar também. Mais complicado, porventura, mas não impossível. Há que repensar modelos de negócio para encontrar um que mantenha a viabilidade.

Claro que já vimos tudo isto no passado. Quando o CD surgiu, também se anunciou a morte da indústria musical, devido à facilidade de replicação de um CD. Agora é o digital, amanhã será outra coisa qualquer. O que me parece importante é que a boa música perdure, isso é que realmente interessa.

Quanto às editoras, acho que partilho dessa opinião - as maiores terão mais dificuldades, porque o seu modelo assenta muito em volume de vendas. Desaparecido esse volume, elas também tenderão a desaparecer. As mais pequenas permanecerão, porque o fazem mais pelo amor à música do que propriamente pela viabilidade económica da coisa. Por mim falo...

Então e mais opiniões / comentários?

Sombre disse...

Já lá vão uns bons anos que comprei "Great Death I & II", do Brighter Death Now do próprio Roger Karmanik. Uma caixa de cartão preta, com o logotipo metálico encrustado. Lá dentro, para além dos dois CDs vinha também um cupão para o "Great Death III", uma edição ainda mais limitada, para acrescentar à caixa.
E comprei um monte de outros discos da CMI - Morthond, Memorandum, In Slaughter Natives, Deutsch Nepal, Mental Destruction, Puissance, MZ.412,... - todos com grandes embalagens, que complementavam a música na perfeição.
Já não os ouço muitas vezes, hoje em dia, mas não me desfazia deles por nada...

A música ambient, parece ser, cada vez mais, distribuida gratuitamente - com a opção de compra para pequenas edições limitadas, em embalagens cuidadas. Quem gosta de música também valoriza as capas. Mas, para os novos compositores, é cada vez mais difícil fazer-se notar e chamar a atenção, entre os milhares de nomes possível. Oferecer (pelo menos alguma) música será uma saída inevitável. Convencer alguém a perder algum do seu tempo para os ouvir será a única forma de abrir portas.

Lurker disse...

Caro Sombre, partilho exactamente desse sentimento - mesmo discos que não ouço há algum tempo (ou que se calhar já não aprecio tanto hoje) não me desfaço deles. E não é incomum "descobrir" grandes discos na minha própria discoteca, apenas porque me esqueci deles e deixei de os ouvir durante anos, e quando a eles regresso volto a apreciar toda aquela magia encapsulada na rodela de plástico e na embalagem adjacente.

A massificação da Internet mudou totalmente o paradigma da indústria musical. Hoje, fazer chegar uma notícia sobre um novo lançamento a todo o mundo é uma tarefa relativamente simples - trabalhei numa editora quando a Internet não existia (ou era ainda uma criança imberbe, melhor dizendo) e sei bem das dificuldades de o fazer pelos chamados "meios tradicionais".

Claro que para artistas e editoras essa facilidade de comunicação é uma grande mais-valia. Leva a excesso de informação, mas esse é um problema diferente. Pelo menos é mais simples, barato e eficaz anunciar um novo lançamento, permitir que os interessados ouçam a música e - no caso daqueles que ainda são assim - comprem o disco.

Como dizia antes, o paradigma mudou e há que encontrar também um modelo de negócios que se adapte a ele. Continuar a insistir no modelo antigo só vai levar as editoras à falência - há que encontrar novas formas de o fazer.

E o que me dizem do conceito de editoras 100% virtuais? Ou seja, não há edição física, mas apenas a venda (por um preço muito mais baixo) do pacote completo (música, letras, grafismo, etc.) e quem quer monta a própria embalagem em casa. Isso atrai-vos ou nem por isso? E quanto acham que seria um preço razoável a pagar por uma edição deste tipo?

Gonzalo disse...

Concordando co ja dito acá, acho que os problemas da Cold Meat sao máis persoais que profissionais. Evidentemente tudas as editoras están a pasar por dificultades ja conhecidas, mais na minha opiniao os problemas de Karmanik son doutro tipo. Ja fai tempo que nao encomendo nada aló (porque fai tempo que nao edita muita cousa tamén), pero lembro que a última vez, fará ano e medio, necessitei de tres!!! envíos distintos para finalmente non recebir nin os álbums que tinha encomendado (e pagado) nin o reembolso do pagamento e dos custes de enviarlhe de volta os pacotes que me enviaran con discos que eu non encomendara. Nen unha explicación sequera. Simplemente deixei de lhes enviar mails farto de nao obter resposta.

Non muito tempo atrás o Roger e a Marie eran tudo amabilidade e dilixencia no tema das encomendas, lembro que recebín o picture disc do ONANI roto e enviáronme outro, sen sequera deixar que pagase polos gastos de envío... máis algo aconteceu aló, de feito o proprio Roger contaba nun mail fai unhas semanas parte dos problemas.

Por isso digo que, ademáis de tudo o exposto, o tema da CMI nao é estrictamente "profissional" e motivado pola crise da industria. Ao fim estamos a falar dunha cena na que as edicións de 1000 copias case nao se poden considerar limitadas, nao é???

Lurker disse...

Obrigado pelas tuas palavras Gonzalo. Não conheço suficientemente bem o Roger para poder fazer essa análise, mas os problemas que referes com as encomendas são tudo o que é necessário evitar para manter uma boa relação com os clientes e consumidores da música que colocamos disponível. E em muitos casos, relações que começaram como de negócio, evoluem para amizade que se mantém ao longo dos anos - tenho vários casos comigo assim.

Quanto às tiragens, tens toda a razão, normalmente não são muito grandes, mas acho que isso também agudiza o problema. Quando lançamos 100 mil cópias de um disco, vender metade da edição paga não só toda a produção mas também todo o trabalho de criação do disco propriamento dito - poderá não pagar as "máquinas" que alimentam o processo, mas essa é outra história. Numa edição de mil cópias, vender metade poderá nem sequer compensar o investimento, o que torna a coisa complicada.

A sustentabilidade financeira é necessária para as editoras manterem a sua operação, e é necessário encontrar outros modelos de negócio que a garantam. Espero é que não sejam modelos como a indústria livreira encontrou, de ter os autores a financiarem a totalidade da produção dos seus livros...